De familiar para familiar

Há exatos dois anos meu marido que estava sentindo só uma dor de estômago foi diagnosticado com câncer, foi um choque, eu fiquei desnorteada, mas logo percebi que se eu não mantivesse a calma não resistiríamos aos desafios que tínhamos pela frente!

Entre o diagnóstico do câncer e o tratamento existe um período de muita incerteza, insegurança e dúvidas, é preciso aprender a lidar também com a ansiedade dos parentes e amigos.
O caso do meu marido não teve um final feliz, ele faleceu em dois meses e meio e nesse tempo aprendi que nem todo mundo sabe como se comportar ou falar com uma pessoa acometida de uma doença tão devastadora.

No começo talvez não tivéssemos entendido a extensão do problema, aos poucos fomos nos dando conta que ele tinha os dias contados, ninguém sabia quantos exatamente, mas estavam contados.
É preciso dizer que ao ser diagnosticado, depois do primeiro impacto, ele foi muito valente e decidiu enfrentar tudo! Aceitou ser internado para a operação, ele acreditava na cura e, aos poucos, foi tomando consciência e percebeu que queria “aproveitar” o tempo que lhe restava.

Um dia, recebemos a visita de um senhor que meu marido admirava muito, que lhe disse que a doença estava lhe dando uma chance de não deixar nenhum assunto por terminar. Ainda no hospital conversou com nossos filhos, chamou parentes e amigos para se despedir, motivo de muitas lágrimas, declarações emocionadas.

Nesse período aprendi que o papel da família no apoio ao paciente com câncer é escutá-lo, entender quais são os seus desejos, transformar aqueles momentos nos melhores momentos possíveis!

Durante aquele tempo me dediquei inteiramente a ele, era a minha chance de declarar meu amor e admiração por ele!

Percebi que algumas conversas, certas atitudes das pessoas incomodavam meu marido e desenvolvi a habilidade de interferir em conversas desnecessárias, mudando de assunto sem a menor cerimônia. Cheguei a ser indelicada, alertei uma visita mais dramática que eu avisaria quando o velório começasse!

Manter o equilíbrio parece ser impossível numa situação dessas, mas a serenidade é contagiante. Se expressar com gentileza com o outro e consigo mesmo traz mais leveza ao momento.
Nesse período tive meus momentos de fraqueza, precisei de amparo mas em momento nenhum me arrependo de ter me dedicado a ele em seus últimos momentos.

Desde então adotei uma frase que passou a ser meu mantra:

“A dor é inevitável, o sofrimento não!”

Isso quer dizer que o que eu estou sentindo é honesto, mas não preciso alimentá-lo!

Dica

Se eu pudesse dar uma dica para pessoas que possuem um familiar com câncer nesse momento eu diria para transformar cada momento num momento inesquecível, esquecer o noticiário e ouvir música, colocar flores nos vasos, relaxar, lembrar dos bons momentos vividos, falar “eu te amo” sem economia, enfim coisinhas pequenas que fazem tanta diferença, um carinho, um beijo e, se alguém sem noção vier falar abobrinhas, não tenha cerimônias em cortar a conversa do começo, o conforto de vocês em primeiro lugar!